Campanha da Fraternidade 2023 Contra a Fome vai arrecadar alimentos durante a quaresma
Nesta conhecida quarta-feira (22) de Cinzas, a igreja Católica aproveita o início da Quaresma – período que antecede a Páscoa e vai de 23 de fevereiro até 6 de abril – e lança a Campanha da Fraternidade 2023 Contra a Fome, com abertura oficial e santa missa no próximo domingo (26), às 9h, no ginásio poliesportivo Dom Bosco.
Com o lema “dai-lhes vós mesmos de comer”, vale ressaltar que a ideia por trás da iniciativa é que as doações durem não só para a abertura da Campanha, sendo que os alimentos podem ser doados diretamente, de forma regular, em cada paróquia distribuída pela Capital.
Por sua vez, esses alimentos arrecadados serão encaminhados para pessoas que se encontrem em vulnerabilidade social, por meio entidades auxiliadas pelas arquidioceses de Campo Grande.
Sendo que aproximadamente 33 milhões de brasileiros passam fome – segundo dados levantados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan) -, para compor a campanha deste ano também foi preparado o lançamento de um livro, que aborda as causas e consequências da fome.
Autoridades
Como bem explica o Arcebispo Metropolitano da Capital, Dom Dimas Barbosa, há mais de 60 anos a igreja no Brasil, no período da Quaresma, realiza a Campanha da Fraternidade, o que ele encara como uma forma “brasuca” de viver esse momento.
“Não existe Campanha da Fraternidade nos moldes como temos no Brasil, em nenhum lugar do mundo. A ideia é tentar juntar fé e vida. A quaresma é marcada pela conversão; oração; penitência; jejum; caridade e, no País então, surgiu essa iniciativa de abordar um tema”, diz ele.
Ainda, Dom Dimas lembra que os primeiros temas eram mais voltados para temáticas internas da própria igreja, como “começa na sua casa, você também é igreja”, antes de chegarem aqueles de relevância social.
“Já é a terceira campanha que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promove em torno deste tema. O lema é baseado na multiplicação dos pães, quando a multidão entorno de Jesus, já estava tarde e, ninguém tinha o que comer e os apóstolos estavam preocupados”, expõe Dom Dimas.
Segundo o texto bíblico, quando os discípulos pediram que Jesus então dispersasse os ouvintes para as aldeias próximas, para que conseguissem o que comer, o messias então disse que não precisava mandar embora, “dai-lhes vós mesmos de comer”.
“Aí vem a pergunta. Mas temos aqui alguns pães e poucos peixes, o quê é isso para toda essa multidão. No entanto, Jesus realiza o milagre a partir daquela pequena partida”, pontua.
Segundo o Dom Dimas, em Campo Grande existem paróquias de periferia que conseguem distribuir 600 refeições toda a semana, e que durante a pandemia houve o que chama de “explosão da caridade”.
“É muito importante que a campanha da fraternidade não se atenha ao período da Quaresma. Hoje nós abrimos a campanha da fraternidade, na sede nacional da CNBB. Domingo teremos nossa missa, no poliesportivo Dom Bosco, já tradicional, com todos os padres participando e pedimos que, para essa celebração em especial, as pessoas também levem 1kg de alimento não perecível”.
Quanto às favelas e pessoas em situação de vulnerabilidade, Dom Dimas expõe que “alguma coisa aconteceu no meio do caminho, que precisa ser revertida”, e destaca que o problema desses locais e seus habitantes, não é unicamente a fome.
“A campanha é feita em primeiro lugar pelos católicos, mas há décadas ela transbordou dos limites visíveis da igreja, hoje, mobilizam-se outros segmentos porque a fome, educação, violência e droga, são problemas que dizem respeito à toda a sociedade. Não é só de religião, é de cidadania”, afirmou ele em coletiva.
Coordenador de pastoral da arquidiocese de Campo Grande, o Padre Vander Casemiro complementa que essa é a terceira vez que o tema da fome é abordado na história da Campanha, abordado inicialmente em 1975.
Uma década depois (1985) o tema voltou a ser abordado, até se repetir neste 2023, sendo que as duas primeiras vezes ele foi tratado enquanto acontecia o Congresso Eucarístico no Brasil, em Manaus e Aparecida, evidencia o padre.
“Lembrando que o tema ele é sempre escolhido, com dois anos de antecedência, não é algo que vai surgindo do dia para a noite. Materiais também são preparados, tudo isso para favorecer então aos cristãos, especialmente os católicos, a oportunidade de fazerem uma boa reflexão acerca da temática e do e do lema trabalhado em si”, afirma.
Conforme o Padre Vander, o texto-base é dividido em três momentos: ver, iluminar e agir. Para ele, mesmo que não convivam diretamente com essa realidade, os cristãos – principalmente católicos – precisam se sensibilizar diante da insegurança alimentar no Brasil.
Conforme o coordenador da pastoral, o texto aborda questões como desemprego e subemprego; conflitos políticos; causas naturais, como a pandemia, e outros pontos que levam direta ou indiretamente até a fome.
Além disso, as próprias consequências da fome, como desestruturação familiar e aumentos da violência e criminalidade, são tratados para trazer uma maior compreensão acerca da temática da fome no Brasil.
Propostas pessoais para consciência de mudança
- Prática da partilha
- Participação em conselhos
- Prática do voluntariado
- Motivação nas paróquias para participar das pastorais sociais
“No âmbito mais comunitário também nós temos algumas questões importantes, que seriam: o trato desse tema em meio à sociedade civil organizada; também em meio aos órgãos competentes. Então nós precisamos levar esta temática, sensibilizar as pessoas, para que ao menos nós consigamos mudar algumas realidades”, expõe o coordenador.
Depois disso, no domingo de ramos, em 2 de abril, haverá a coleta nacional da solidariedade, uma proposta onde os fundos arrecadados são direcionados, também, para projetos que atuam com crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade em diversas regiões do Brasil.
Como complementa o Bispo Auxiliar, Dom Mariano Danecki, Dom Janio Sales – cardeal do Rio de Janeiro que lançou a Campanha em 1964, na época enquanto bispo de Natal -, partiu das três dimensões oferecidas por Jesus na quarta-feira de Cinzas, pela oração; jejum e caridade.
“Ele queria que se tornasse um projeto comunitário. Então, aquilo que a igreja vive no tempo da Quaresma, o convite é dirigido a cada um de nós, quando Jesus diz que se queres ser perfeito faz um convite ao jejum e oração pessoal, mas a caridade a igreja quer que vivamos de modo comunitário”, finaliza ele.