Marca no corpo e criança defecada; mães expõe situação enquanto Semed tenta contratar profissionais

Falta de profissionais especializados para acompanhamento de alunos autistas, em Campo Grande, é um problema que se estende há tempos e, enquanto a Secretaria Municipal de Educação tenta equilibrar a quantia de profissionais com a demanda de estudantes, mães vivem momentos de terror que vão de encontrar suas crianças com marcas pelo corpo e até mesmo totalmente defecados.

Ainda no ano passado, o Correio do Estado ilustrou a situação da falta de assistente educacional inclusivo, em pelo menos três escolas da Rede Municipal de Ensino (REME), Prof.ª Oliva Enciso, no Bairro Tiradentes; Wilson Taveira Rosalino, no Aero Rancho e Padre José de Anchieta, na Vila Planalto.

Dessa vez, mães de alunos autistas da Escola Municipal Nerone Maiolino, no bairro Vida Nova, é quem relatam dificuldades que enfrentam diante da falta de cuidado para com seus filhos. De marcas de unha pelo corpo; não deixar a criança brincar no intervalo; encontrar o filho trancado no banheiro com a professora e até todo defecado, as reclamações se acumulam.

Números da REME apontam que, ainda em 2022, a Rede somava, aproximadamente, 3,2 mil alunos com algum tipo de deficiência, dos quais mais de 1,4 mil eram autistas, com cerca de 1,1 mil profissionais de apoio.

Mais recente, a Semed detalha que, o número de alunos na educação especial aumentou quase uma unidade de milhar e hoje somam 4.072 estudantes.

Entretanto, os dados mostram redução no número de autistas, que contabilizam 1.277 em 2023.

Problemas na escola
Ana Paula, mãe do pequeno Yan, que é autista não verbal, revela que está na saga por uma educação de qualidade há tempos e é ela quem conta o episódio de encontrar o filho todo defecado, quando foi buscar a criança na escola.

“Fui pegar meu filho e ele estava todo ‘cagado’, com fezes até no cabelo, na orelha. Eles tentaram limpar meu filho, trocaram ele com a roupa que mando na mochila, mas o despreparo é nítido”, comenta.

Sobre o episódio de encontrar o filho defecado, através da Semed, a direção da unidade escolar comentou, dizendo que a situação aconteceu próximo ao horário da saída e o aluno foi levado para o banheiro, momento em que a mãe chegou para buscá-lo, conforme o texto.

Ainda, a nota da Semed aponta que: “conforme relatado pela escola, a professora estava acompanhada de outra profissional que a auxiliava no momento em que realizava a higiene do aluno”.

“É a coisa mais triste você ir buscar seu filho na escola e ele todo cheio de merd*, no cabelo, no ouvido. Disseram que deram um banho, porque eu mando roupa reserva, mas que ele tinha feito na sala e foi tirando a roupa, pisando em tudo. Pelo que eu sou mãe eu sei, ficou muito tempo ele começou a enfiar a mão na roupa e jogar para fora, a ficar nervoso e pisotear. Elas, sem preparo nenhum, ficaram no desespero”, diz a mãe.

Desanimada e desmotivada para levar seu filho na escola, Ana cita que cada dia escuta uma reclamação diferente da unidade escolar, chegando a deixar o filho por um período menor de tempo, para ver se seu transtorno também diminui

“Não tenho segurança para deixar meu filho na escola. Fui buscar e a professora estava com ele trancado no banheiro. Quando vou questionar, elas me perseguem, não posso falar nada. Não tô dizendo que ela é uma assediadora, mas o seguro morreu de velho, as coisas estão acontecendo e meu filho não sabe falar”, expõe.

Ela revela que o filho já apareceu com diversas marcas no corpo e, ao buscar respostas, diz que a reunião para tratar do assunto o encontro tomou outro rumo.

“Disseram que meu filho fala até palavrão na escola, sendo que ele é autista, não verbal, não fala nem ‘mãe’, que dirá o palavrão que elas comentam que ele falou, que é horrível. Percebo que não querem meu filho lá”, completa ela.

Fabyana, mãe do pequeno Bruno, é outra mãe que enfrentou problemas no Nerone, até que foi necessário mudar a criança de escola.

“Ele [Bruno] reclamou que a professora bateu nele e agora não está indo na escola. Arrumaram um professor para atender uma ou duas horas em casa, mas na unidade não pode e não tem”, diz ela.

Em conversa com um dos professores que auxiliavam seu filho, o profissional chegou a contar que a ideia seria manter essas crianças em casa e pagar pouco. Porque, por disponibilidade, o profissional conseguiria atender os alunos na unidade.

“Eles estão correndo do problema e jogando para dentro de casa. Eu e o diretor discutimos feio. Ele não quer arrumar, diz que não tem como. Também falei que não quero o tutor em casa. Vou acionar o Conselho antes que acionem para mim, dizer que não quero levar o Bruno na escola”, complementa Faby.

Por fim, Ana Paula ainda diz que questionou os funcionários do motivo de andarem segurando Yan pelo pulso, no que ela classifica como “um presidiário dentro da escola”.

“Tem que deixar um pouco a vontade. Para você ver o despreparo, tratando como um doente ou bicho que se soltar vai causar algum dano a alguém. Tem diferença em andar segurando a mão e segurando o pulso”.

Ana Paula conclui dizendo que, para ela, infelizmente, seu sofrimento teve início desde quando o Yan começou a frequentar Centros de Educação Infantis.

“Já fui pegar meu filho até ensanguentado, tem uma marca na testa que derrubaram ele e não sei nem como. E eu tive que me virar, para levar no posto, no médico, tem a cicatriz até hoje. Elas querem que eu não leve mais, mas levo e fico pedindo a Deus para que nada de ruim aconteça com meu filho”, finaliza ela.

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