Em júri, família rechaça versão de que serial killer matou para defender criança e quer justiça
O pedreiro Cléber de Souza Carvalho, apontado como serial killer que matou pelo menos sete pessoas em Campo Grande, é julgado nesta sexta-feira (12) pelo assassinato de Hélio Taíra, de 74 anos, na 2ª Vara do Tribunal do Júri.
Este é o último júri do pedreiro, que já foi condenado a mais de 96 anos por outros seis assassinatos.
No caso de hoje, acusado e vítima faziam um bico de jardinagem na Vila Planalto, quando se desentenderam e o assassino o matou Taíra com vários golpes na cabeça e enterrou o corpo na calçada lateral da residência, concretando a área em seguida.
O idoso foi dado como desaparecido em novembro de 2016 e o corpo encontrado em 2020, quando o pedreiro foi pego por um dos crimes e confessou outros seis e deu a localização de onde havia escondido os corpos.
Apenas a cunhada de Taíra, Tereza Soares, 71 anos, relatou que a família espera que seja feita “a justiça dos homens”.
“Foram mais de quatro anos. Eu e minha cunhada procurando, a gente ia para Miranda, Rio Verde, Bonito, quando falavam que tinha alguém na rua mendigando, a gente ia. Eu ia para a rua com a foto dele. Durante quatro anos foi só sofrimento”, disse.
Em depoimento, Cléber alegou que cometeu o crime porque a vítima teria “mexido” com duas estudantes, menores de idade, que estavam indo para a escola e que se iniciou uma discussão.
Ainda segundo a versão do acusado, durante a briga, Taíra teria ido para cima dele com um facão e, para se defender, ele bateu na cabeça da vítima com o cabo de uma ferramenta de pedreiro que ele estava segurando.
Depois, ele enterrou o corpo na entrada da lavandaria da casa e fez o calçamento do local com cimento. O acusado nega que tenha se apossado de bens da vítima, como ocorreu com as outras seis vítimas, que ele matou e ficou com os bens.
A família, no entanto, não acredita na versão sobre a motivação da discussão e alega que a vítima teve bens substraídos.
“Ele era muito trabalhador, nunca ia fazer isso [mexer com meninas na rua], jamais. Ele tinha o dinheiro dele, as coisas dele, e sumiu as coisas dele. Ele [matou para roubar e tá falando que é santo, ele não é santo não, é fácil ele falar agora”, disse a cunhada da vítima.
“Só quero a justiça dos homens, se não tiver a dos homens, eu acredito em Deus”, finalizou Fátima.
Defesa
O advogado Diego Fernandes, que defende o pedreiro, afirmou que a linha de defesa é retirar as qualificadoras do crime, para tentar que a pena seja menor.
Cléber responde por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
“Dos sete julgamentos, nós adotamos a estratégia desde o primeiro, que é fazer com que o Cléber seja julgado de uma forma justa, que ele cumpra as penas pelo que ele fez, não a mais”, disse o advogado.
Ele afirma ainda que a defesa não concorda com a qualificação, o motivo e a forma de execução da vítima e também apresenta a versão de que a vítima teria mexido com uma criança.
“Essa motivação seria uma motivação de honra. E a questão da forma de execução, falam que foram vários golpes e que isso teria se tornado meio cruel, o que também não é verdade, a gente demonstra que foram dois golpes”, alega.
O júri popular começou às 8h e a sentença deve sair no fim da tarde.
Vítimas e condenações
Os crimes do pedreiro foram descobertos em maio de 2020.
Todas as vítimas eram homens, que moravam sozinho e possuíam bens em seus nomes e todos foram mortos com pauladas na cabeça.
O primeiro corpo encontrado foi de José Leonel Ferreira dos Santos, de 61 anos, que foi morto dia 2 de maio de 2020 em sua própria casa.
No dia seguinte ao crime, a família de Cléber se mudou para a residência, fato que fez um vizinho da vítima desconfiar e registrar boletim de ocorrência.
Polícia investigou o caso e, ao ser descoberto, Cléber confessou a morte de José Leonel e outros homicídios, indicando onde havia enterrado os corpos.
Pela morte de José Leonel Ferreira dos Santos ele foi condenado a 18 anos de prisão.
A segunda vítima era ajudante do serial killer. José de Jesus de Souza, 45 anos, trabalhava como pedreiro nas obras e foi morto depois de desentendimento com o criminoso.
Ele era da Bahia e não tinha familiares em Campo Grande. A irmã de Cléber estava morando na casa de José de Jesus e ele também vendeu um terreno que pertencia à vítima.
Pelo crime, o serial killer foi condenado a 18 anos de prisão.
Roberto Geraldo Clariano, de 48 anos, foi com o suspeito até um terreno no Zé Pereira com a intenção de limpar e invadir o local.
Lá, se desentenderam e o criminoso golpeou a vítima na cabeça com o cabo de uma picareta. O assassino enterrou o corpo e arma do crime no mesmo lugar.
Pelo homicídio de Roberto, Cleber foi condenado a 15 anos de prisão.
Flávio Pereira, de 34 anos, primo de Cléber foi morto em 2015, depois de brigar com o suspeito devido a um terreno que pertencia à vítima. Após o crime, o pedreiro vendeu a propriedade para um barbeiro, de 53 anos, por R$ 50 mil.
A pena para este crime foi de 15 anos.
Claudionor Longo Xavier, de 48 anos, era caseiro de uma chácara quando conheceu o pedreiro e resolveram fazer juntos um investimento em imóvel, mas acabaram brigando.
O suspeito matou e levou o cadáver no terreno de uma casa no bairro Sírio Libanês e vendeu a motocicleta da vítima. A pena também foi de 15 anos.
O aposentado Timóteo Pontes Roman, 62 anos, contratou o pedreiro para fazer reparos na calçada da casa onde morava, na Planalto, onde foi morto com duas pauladas na cabeça e o corpo jogado em um poço de mais de 10 metros, nos fundos da casa.
Assassino disse que intenção era se apropriar da casa do aposentado, que morava sozinho.
Por este crime, ele foi condenado a 15 anos de prisão.