MS está se livrando de 40 anos de um Estado paralelo, diz pai de Matheus
Depois de prestar depoimento como informante na tarde desta segunda-feira, o ex-capitão da PM Paulo Xavier acompanha da plateia o segundo dia de julgamento dos três réus acusados pelo assassinado do seu filho, Matheus, de 20 anos, ocorrido em abril de 2019, e não poupou críticas à família Name.
Em entrevista, afirmou que acredita que com este julgamento “a sociedade sul-mato-grossense está se livrando de quarenta anos de desmando, desse Estado paralelo, que subjugava as autoridades, subjugava toda a sociedade e fazia mal pra muita gente”.
Ele estava se referindo à família Name, cujo patriarca, Jamil, morreu em 2021, e a Jamil Name Filho, que é um dos réus pelo assassinato de Matheus Xavier. Os outros dois réus são um ex-policial (Vlademilson Olmedo) e um ex-guarda municipal (Marcelo Rios)
E, conforme os depoimentos dos delegados nos dois primeiros dias de julgamento, ficou claro que dezenas de outros policiais e guardas municipais estavam a serviço da família. Um delegado inclusive chegou a ser detido durante as investigações da Operação Omertá, que foi a responsável pela prisão dos Name, em setembro de 2019.
Uma série de outros crimes, inclusive de homicídio, passaram a ser investigados e atribuídos à família Name depois que pai e filho foram presos. Antes das prisões, embora incontáveis fontes policiais informassem que que sabiam quem eram os autores de deteminados crimes, as apurações nunca chegavam aos mandantes.
Além disso, durante décadas a família explorou impunemente o jogo do bicho, que depois da operação Omertá. A prática de agiotagem também foi durante décadas uma das atividades do clã. Essa agiotagem, inclusive, resultou na condenação de quase 14 anos de prisão da Jamilzinho por ter tomado à força uma casa no bairro Monte Líbana, em Campo Grande.
Essa influência, porém, teria acabado depois que as autoridades descobriram que depois de Paulo Xavier, a milícia pretendia matar o filho de um ex-governador e o advogado Antônio Augusto de Souza Coelho, que teria aplicado um golpe na família Name durante negociação de uma fazenda em Jardim. E, por causa deste risco, finalmente uma investigação evoluiu.
QUEM NÃO DEVE…
Além de mencionar o poder paralelo da família, Paulo Xavier questionou a ausência dos familiares dos réus durante o julgamento. “Quem não deve não teme. Eu sou o pai do Mateus, estou aqui. A mãe do Mateus, com muito sofrimento, está aqui. E cadê a família dos assassinos. Por quê? Porque sabem que foi eles.”
Questionou, ainda a ausência dos antigos advogados de defesa no tribunal do júri. “Todos os advogados aqui do estado que assumiram a defesa do Jamil Nome Filho foram saindo. Renê Siufi, Bataglin (Luiz Gustavo Battaglin Maciel) e outros. Por quê? Porque sabem que ele é perigoso, sabem que ele é o assassino, sabem que ele nesses quatro anos teria matado muito mais gente, sabem que ele ia continuar matando. Então teve que contratar pessoas de outro estado a preços de milhões que não conhecem ele. Se conhecessem ele, por mais que o advogado tem que fazer a sua parte, não estariam fazendo a defesa”.
Questionado se não estaria com medo desta suposta milícia, já que, segundo ele, seria tão perigosa, afirmou que “tudo o que eles podiam fazer de mal pra mim já fizeram. Então eu não tenho medo, eu acredito na Justiça, eu acredito que vão continuar presos”. Mesmo que seja inocentado no júri, Jamilzinho vai continuar preso, pois já foi punido a pouco mais de 23 anos por outros três crimes.
Sobre as tentativas da acusação de atribuir o atentado a uma suposta desavença com a facção criminosa PCC e ex-major Sérgio Roberto de Carvalho, o pai de Matheus afirmou que a defesa dos réus “não sabe o que fazer. Estão jogando essa fumaça pra poder despistar, tirar o do foco. O fato é o seguinte: mataram um inocente, eles têm que responder por isso. Como eles não têm como justificar esse homicídio praticado contra o meu filho, estão fazendo ilações”.
A acusação diz que o pivô do atentado contra Paulo Xavier e que acabou resultando na morte do filho foi a disputa pela posse de uma fazenda em Jardim. A defesa, porém, tenta desqualificar esta tese e atribuir o ataque ao suposto envolvimento de Paulo Xavier com traficantes.
Como prova, a defesa afirma que um dos pistoleiros tinha uma tatuagem do PCC e que em 2009 o pai de Matheus chegou a ser detido por explorar máquinas caça-níqueis junto com o major Carvalho.