Maior uso dos planos de saúde pelos clientes agrava desequilíbrio de contas
Ao lesionar o joelho, estudante gastou cerca de R$ 16 mil em cirurgias e atendimentos particulares - Foto: Marcelo Victor
Esse desequilíbrio é uma realidade tanto brasileira quanto estadual. De acordo com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), no ano passado as operadoras de planos de saúde registraram um prejuízo operacional de R$ 11,5 bilhões. Já nos primeiros três meses desse ano o deficit foi de
R$ 1,7 bilhão.
O cenário econômico também é uma realidade para a Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul (Cassems). Gestor da operadora, Ricardo Ayache informou ao Correio do Estado que em 2021 a Cassems teve o primeiro balanço negativo de sua história, quando fechou com um deficit de
R$ 37 milhões.
Em 2022, Ayache relatou que houve uma melhora pontual, com R$ 20 milhões positivos, mas que já no primeiro trimestre deste ano a sinistralidade, ou seja, o maior gasto com serviços de saúde, já superou as receitas dos convênios médicos. Ele detalhou que tal crescimento em sinistralidade colabora com o desequilíbrio de contas.
O médico disse que, com o fim do estado de emergência médica causada pela Covid-19,
as pessoas voltaram a realizar cirurgias, consultas médicas, exames e checapes que não foram feitos anteriormente.
Além disso, muitas doenças foram diagnosticadas em estágio mais avançado justamente pelas pessoas não terem frequentado clínicas ou hospitais na pandemia. Ayache apontou ainda que o envelhecimento da população e as sequelas da Covid-19, como a inflação dos produtos de saúde e as dívidas adquiridas na pandemia, são outros fatores que influenciam a crise financeira vivida pelos planos de saúde no País.
Em 2022, a Cassems registrou um aumento de 82,18% na sinistralidade. Só no primeiro trimestre deste ano, houve 99,16% de taxa de sinistros, um acréscimo de 5,98%. No Brasil, o setor da saúde suplementar fechou o mesmo período com 87,25% de sinistralidade, aproximadamente 1,2% acima do apurado no mesmo intervalo do ano passado.
Segundo Ayache, casos de doenças cardiovasculares, cânceres e reumatologia vêm sendo os tratamentos mais procurados no período pós-pandêmico. A utilização de materiais especiais, principalmente voltados a cirurgias, como órteses e próteses, também vem elevando os gastos para as operadoras, pois tiveram encarecimento após a pandemia.
Ayache expôs ainda que houve um pequeno aumento na adesão ao plano de saúde, especificamente no ano passado, mas esse fator não é significativo quando comparado ao restante de gastos.
A Unimed Campo Grande informou em nota que também registrou um aumento expressivo na adesão de clientes durante a pandemia, porém, o plano não repassou dados de sua sinistralidade nem referentes às suas finanças.
Já o Prontomed, plano particular da Santa Casa de Campo Grande, não retornou os contatos da equipe de reportagem.
ADESÃO
O estudante de Audiovisual Carlos Yukio é uma das pessoas que, atualmente, pretende aderir a um plano de saúde. Seu interesse veio após uma ruptura do ligamento cruzado do joelho direito em um jogo de vôlei, que levou o atleta a realizar uma cirurgia.
No momento da lesão, Yukio não contava com um plano de saúde, pois já havia completado a idade máxima permitida pela operadora que seu pai adere. Dessa forma, todos os custos de cirurgia e tratamento vêm sendo particulares.
“Não sabia qual operadora contratar aqui em Campo Grande e acabei não usando, porque não tinha muitos problemas [de saúde], mas aí veio a minha lesão e cirurgia. Tive que fazer tudo no particular. Agora que já passou o período de recuperação, acho que os planos não aceitam pessoas operadas, etc. e estou buscando um que abranja tudo que eu preciso”, disse o estudante.
Yukio contou ainda que o investimento para a realização de sua cirurgia foi em torno de R$ 16 mil e que conseguiu o agendamento três meses após a lesão, prazo que demoraria mais se pudesse ter utilizado seu antigo plano de saúde, porém, que compensaria os gastos desembolsados.
Além do procedimento cirúrgico, Yukio teve de arcar com consultas, com fisioterapia e até com academia para fortalecer o músculo lesionado.
“A sorte é que eu sou atleta da universidade e consigo fisioterapia duas vezes na semana”, finalizou o jovem.