Postagem anti-Israel foi só a ‘gota d’água’ para demissão de Doyle, dizem fontes

A decisão do governo de demitir ontem o presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Hélio Doyle, foi precedida por uma sucessão de atritos entre o jornalista e o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta. A postagem anti-Israel que serviu de estopim para a demissão foi apenas a “gota d’água”, contaram à CNN líderes petistas que acompanharam o processo de perto.

Um dos principais episódios a acentuarem o desgaste foi o fato de Doyle ter contratado Luiz Carlos Braga como editor-chefe e apresentador na estatal. O jornalista já havia feito declarações negando a ditadura militar e elogiando Jair Bolsonaro (PL), passando a ser alvo de fortes críticas na base petista.

Doyle passou a sofrer pressão interna para demitir o subordinado e, ao sacramentar a exoneração, no início deste mês, declarou que a saída havia se dado a pedido de Paulo Pimenta.

No entorno do ministro, Doyle passou a sofrer críticas também pela programação da TV estatal. Houve queixas, por exemplo, pela cobertura dada à notícia de que a ex-presidente Dilma Rousseff teve arquivadas as denúncias contra ela no caso das pedaladas fiscais.

Aliados de Doyle se queixaram de tentativa de partidarizar a cobertura, enquanto os críticos ressaltaram que emissoras privadas deram mais destaque ao fato.

Doyle foi demitido ontem da Presidência da estatal, após reproduzir nas redes sociais uma postagem do cartunista Carlos Latuff criticando Israel. “Não precisa ser sionista para apoiar Israel. Ser um idiota é o bastante”, dizia a postagem.

A mensagem veio no momento em que o governo optou por um discurso neutro a respeito do conflito, apesar de sofrer pressões dentro do próprio PT, que tem posição histórica em favor da Palestina.

Houve determinação expressa do Planalto para que integrantes do governo atentem para o fato de o Brasil presidir o Conselho de Segurança da ONU, com a tarefa de atuar como um dos mediadores do conflito.

Confirmada a exoneração de Doyle, o Planalto começou a discutir ontem mesmo a substituição do jornalista no comando da EBC. Um nome que circulou é o de Ricardo Zamora, secretário-executivo da Secom e braço direito de Pimenta, que poderia assumir o posto em caráter interino.

Mas não há martelo batido, segundo fontes ouvidas pela CNN. Parte do PT defende que a vaga seja preenchida com um nome do mercado, para afastar críticas de politização da estatal.

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