Ibovespa cai a menor nível desde dezembro, com falas de Lula sobre Petrobras
A combinação desses fatores levou à terceira queda seguida para o índice de referência da B3, que só nesse intervalo acumula perdas de 2%. Hoje, ele oscilou em terreno negativo durante praticamente todo o dia, entre a mínima, de 126.065,16 pontos (-0,79%), e a máxima, de 127.067,97 pontos (estável). Dos 86 papéis da carteira teórica do Ibovespa, 50 fecharam o dia no vermelho. O giro foi de R$ 20 bilhões.
Petrobras foi o destaque da sessão, marcada pela tentativa do mercado de medir o risco de ingerência política em empresas controladas pelo governo. Depois do tombo da última sexta-feira, puxado pela notícia de que a empresa não pagaria dividendos extraordinários referentes ao quarto trimestre de 2023, investidores acompanharam a evolução do noticiário sobre o tema
As ações da empresa começaram o dia no vermelho, mas inverteram o sinal já durante a manhã, em meio à expectativa por uma reunião entre Lula e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates A notícia de que conselheiros da petroleira ligados ao governo poderiam rever a decisão de reter os dividendos também deu força aos papéis, que se mantiveram no positivo à tarde, à espera de notícias sobre o encontro.
Mas, nos últimos minutos do pregão, a divulgação de trecho de uma entrevista de Lula ao SBT puxou uma inversão de sinal. Nas falas, gravadas pela manhã, antes da reunião com Prates, ele afirmou que teve uma “conversa séria” com a direção da empresa e que a petroleira queria distribuir R$ 80 bilhões, mas deveria pagar só R$ 45 bilhões. O petista ainda defendeu que a Petrobras não deveria “atender apenas à choradeira do mercado”: “O mercado é um dinossauro voraz, quer tudo para ele e nada para o povo”, disse.
Após as declarações, os papéis da Petrobras se firmaram no vermelho, e encerraram o dia em queda de 1,97% (ON) a 1,22% (PN)
A queda de 5,41% do minério de ferro na bolsa de Dalian, na China, também penalizou o Ibovespa. Puxada pela commodity, Vale ON recuou 3,11%, com a notícia de que o conselho da empresa decidiu manter Eduardo Bartolomeo como CEO deixada em segundo plano pelo mercado. Outras mineradoras também fecharam no vermelho, a exemplo de Usiminas PNA (-4,70%) e CSN (-1,78%).
As maiores altas do Ibovespa hoje foram de 3R Petroleum ON (+2,94%), Vamos ON (+2,56%), Eztec ON (+2,41%) e JBS ON (+1,80%) Na outra ponta, as maiores quedas ficaram com IRB Brasil ON (-5,05%) e Tim ON (-3,59%), além de Vale ON e Usiminas PNA.
Dólar
Após subir quase 1% na sexta-feira, 8, em meio a forte estresse no mercado doméstico, o dólar à vista experimentou um ligeiro recuo nesta abertura de semana. Pela manhã, a divisa até ensaiou uma nova rodada de alta e tocou, na máxima do dia, o nível psicológico de R$ 5,00. Mas passou a cair em seguida com relatos de entrada de fluxo comercial, desmonte parcial de posições defensivas e movimentos pontuais de realização de lucros.
As atenções estiveram voltadas ao vaivém das informações relacionadas à Petrobras. A divisa se afastou dos R$ 5,00 com a informação, apurada pelo Broadcast, de que o grupo de conselheiros na Petrobras indicado pelo governo pode rever a decisão de reter 100% dos dividendos extraordinários da estatal. Na sexta-feira, houve relatos de que venda de papéis da companhia por investidores estrangeiros estaria por trás da arrancada do dólar.
Na reta final dos negócios, o dólar ameaçou zerar a queda após falas de Lula sobre a Petrobras em entrevista ao SBT gravada hoje pela manhã e divulgadas no site da emissora já no fim da tarde. “A Petrobras não é apenas para pensar nos acionistas, tem de pensar em investimento e em 200 milhões de brasileiros”, disse o presidente. “Se for atender apenas à choradeira do mercado, não faz nada”, acrescentou.
Com mínima a R$ 4,9730, o dólar à vista fechou a sessão cotado a R$ 4,9784, em baixa de 0,05%. No mês, sobe 0,11%. No ano, acumula valorização de 2,58%. Houve boa liquidez para um início de semana. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para abril movimentou mais de US$ 12 bilhões.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que o nível atual da taxa de câmbio já reflete um ambiente de cautela por parte do investidor estrangeiro, que busca refúgio no dólar e reduz posições no mercado acionário local. “O que pesa é essa postura do governo de interferir na gestão das empresas. O caso dos dividendos da Petrobras assustou Mas tivemos antes também os rumores de que o governo queria mexer na direção da Vale”, afirma Galhardo, ressaltando que no ano o saldo do capital externo na B3 está negativo em cerca de R$ 20 bilhões.
No exterior, o índice DXY operou em leve alta, graças aos ganhos do dólar em relação ao euro, mas se manteve abaixo da linha dos 103,000 pontos. A moeda americana subiu na comparação com a maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, em dia de queda de mais de 5% do minério de ferro, mas teve leve queda ante dois pares relevantes do real, o peso mexicano e o rand sul-africano.
As taxas dos Treasuries avançaram, em especial o retorno do papel de 2 anos, mais ligado ao rumo da política monetária, na véspera da divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA. Segundo mediana de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, o índice deve subir 0,4% em fevereiro, leve aceleração em relação a janeiro (0,3%).
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a moeda americana apresenta rigidez no exterior e uma eventual perda de força virá somente se o núcleo do CPI em fevereiro for menor do que o observado em janeiro. Por aqui, Velho ainda vê a taxa de câmbio próxima de R$ 5,00, com a “percepção de mais intervencionismo e de mais gastos” por parte do governo Lula, em ano de eleições municipais.
No Brasil, o IBGE divulga amanhã o IPCA de fevereiro. A mediana de Projeções Broadcast é de aceleração para 0,78%, após alta de 0,42% em janeiro. Em 12 meses, a mediana aponta desaceleração de 4,51% para 4,44% – abaixo do teto da meta de inflação, de 4,50%
Juros
Os juros futuros fecharam em queda, estabelecido ainda pela manhã, acompanhando a virada do dólar para baixo e se descolando da alta moderada dos rendimentos dos Treasuries. A agenda de indicadores foi fraca, o que reforçou a atenção do mercado ao noticiário envolvendo a Petrobras e os riscos fiscais, antes dos dados de inflação no Brasil e nos Estados Unidos, amanhã.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou 9,870%, de 9,890% na sexta-feira, e o DI para janeiro de 2026, com taxa de 9,70% (mínima), de 9,75% na sessão anterior. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 9,93%, na mínima, (de 9,98%) e o DI para janeiro de 2029, com taxa de 10,40%, de 10,44%.
O câmbio serviu hoje de referência para a curva desde cedo, com as taxas acompanhando de perto as idas e vindas da moeda. Começaram o dia em alta e passaram a cair com o alívio no dólar, contrariando o sinal positivo dos yields dos Treasuries. A moeda americana chegou a tocar os R$ 5 no máxima, em linha com a tendência externa, mas tal nível acabou atraindo fluxo e levando à troca de sinal. No fechamento, estava em R$ 4,9784 (-0,05%) no segmento à vista.
O gatilho para a recuperação do mercados de câmbio e DI veio da expectativa de reversão da decisão do Conselho da Petrobras de não pagar dividendos extraordinários, após o Broadcast informar que o grupo de conselheiros indicado pelo governo poderia reconsiderar a questão. O mercado se animou com a possibilidade, até porque o presidente da empresa, Jean Paul Prates, se reuniria nesta tarde com o presidente Lula, que, segundo O Globo, teria arbitrado a disputa em torno dos dividendos depois de duas reuniões no Palácio do Planalto que não constaram na agenda oficial.
A expectativa pela reunião renovou a esperança de uma reviravolta no caso, blindando a curva de juros do impacto do aumento da cautela no exterior à tarde, quando as taxas dos Treasuries ampliaram o ritmo de alta, com a T-Note de dez aos voltando a operar nos 4,10%.
Também nesta terça-feira será dia de inflação no Brasil, com a publicação do IPCA de fevereiro. As taxas chegaram a tocar as mínimas no meio da tarde com o mercado ajustando posições a uma eventual surpresa positiva com o dado, mas o movimento não prosperou após a divulgação de trechos de uma entrevista de Lula, que vai ao ar no SBT Brasil nesta noite, nos quais fala sobre a Petrobrás.
Lula afirma que a empresa “não pode só pensar nos acionistas”, mas também em investimentos para 200 milhões de brasileiros. “Tenho compromisso de reduzir preço dos combustíveis e gás de cozinha. Não tem por que ter preço dos combustíveis equiparado ao internacional”, disse. As declarações foram dadas ao SBT na manhã desta segunda-feira, antes da reunião de Lula com Prates.
Sobre o IPCA, a mediana das estimativas é de 0,78%, ante 0,42% em janeiro. Para os preços de abertura, a expectativa é de que ganhem fôlego os núcleos, livres, administrados e serviços. Por outro lado, devem arrefecer os preços de serviços subjacentes, alimentação no domicílio e bens industriais.