Ex-morador de MS vive drama das enchentes no RS: “torci o pé ao andar em área alagada”

Fotógrafo e empresário, Pablo Lopes Pinto, de 27 anos, se mudou de Campo Grande (MS) para Pelotas (RS) há dois anos e jamais imaginou “viver na pele” sua casa, literalmente, debaixo d’água.

Ele se mudou para o Sul para ficar mais perto da família, mas, não imaginaria que iria presenciar a maior tragédia climática da história do Rio Grande do Sul.

Pablo morou em Mato Grosso do Sul por 11 anos, de 2008 a 2013 e de 2016 a 2022. Natural de Rio Grande (RS), ele afirma que é gaúcho apenas de sangue e sul-mato-grossense de coração. Ele veio para Mato Grosso do Sul acompanhar seu pai, que havia sido transferido no trabalho.

“Eu gosto de Campo Grande pelas amizades e da cidade, mas em relação ao clima, eu prefiro o clima gaúcho. O clima de MS é terrível, seco, calor demais, não é algo muito bom não”, comentou.

Águas da Lagoa dos Patos quase atingindo as casas. Foto: Pablo Lopes

Residente em Pelotas, município localizado a 263 quilômetros de Porto Alegre e às beiras da Lagoa dos Patos, o fotógrafo viveu o drama de ver a sua casa invadida pela água em 10 de maio, 11 dias após as águas inundarem a Capital gaúcha.

Os moradores de Pelotas ficaram em alerta por cerca de uma semana, quando acompanharam o nível da Lagoa dos Patos subir sentido sul, enquanto no norte o Rio Guaíba transbordava e enchia a lagoa.

Em 9 de maio, o nível da Lagoa dos Patos começou a subir e tomar conta das ruas de Pelotas e, em 11 de maio, a água invadiu e alagou a casa do fotógrafo. Ele e seus pais tiveram que se mudar.

“Tivemos a casa dos meus pais afetada mas como ainda está alagada não há como saber dos prejuízos. Eu vim para a casa do meu tio que fica na mesma cidade. Meus pais decidiram ficar no nosso vizinho, onde a casa é um sobrado e não tem perigo de inundar em cima”, relatou.

Sul-mato-grossense ‘postiço’, Pablo Lopes, residente de Pelotas (RS)

A rede de energia teve que ser desligada em muitas cidades do Rio Grande do Sul por conta de risco de choque elétrico. Com isso, moradores sofreram com a falta de energia. “Usamos um gerador para manter algumas coisas ligadas e poder carregar os celulares. A água encanada não houve problemas”, contou.

Pablo ainda conta que, além das enchentes deixarem marcas em sua memória, também deixaram em seu corpo.

TRAGÉDIA CLIMÁTICA

Fortes chuvas atingem o Rio Grande do Sul desde 30 de abril de 2024. O Estado vive a pior tragédia climática da história.

Boletim, divulgado pela Defesa Civil do Rio Grande do Sul neste sábado (25), aponta que as chuvas já resultaram em 166 mortes, 61 desaparecidos e 806 feridos em todo o Estado.

Até o momento, há 55.791 desabrigados (quem teve a casa destruída e precisa de abrigo do poder público) e 581.638 desalojados (quem teve que deixar sua casa, temporária ou definitivamente, e não precisa necessariamente de um abrigo público – pode ter ido para casa de parentes, por exemplo).

Ao todo, 2.345.400 pessoas foram afetadas pelas enchentes no Estado. Conforme o governo gaúcho, 77.639 pessoas foram resgatadas. No mínimo, 461 dos 497 municípios foram afetados pelas chuvas.

De acordo com a Polícia Rodoviária Federal (PRF), algumas rodovias estão total ou parcialmente bloqueados, incluindo estradas e pontes.

Algumas foram interditados por quedas de barreiras, desmoronamentos, erosão e acúmulo de água e outros foram realizados de forma preventiva por apresentarem rachadura na pista ou ponte coberta pelas águas dos rios.

Em 1º de maio, o governo do Rio Grande do Sul decretou estado de calamidade pública em todo o estado por causa das fortes chuvas.

A medida estabelece que os órgãos e entidades da administração pública “prestarão apoio à população nas áreas afetadas” por “eventos climáticos como chuvas intensas, alagamentos, granizo, inundações, enxurradas e vendavais”, causando “danos humanos, com a perda de vidas, e danos materiais e ambientais, como a destruição de moradias, estradas e pontes”, além de comprometer o funcionamento de instituições públicas.

O decreto é válido por 180 dias e não impede que o governo estadual reconheça (homologue) decretos de calamidade pública declarados pelas prefeituras.

O decreto de estado de calamidade pública é o reconhecimento legal, pelo Poder Público, de uma situação anormal, provocada por desastres, e que causa sérios danos à comunidade afetada, inclusive à segurança e/ou à vida das pessoas.

O texto classifica a situação como um desastre do nível III, ou seja, de grande intensidade. O que significa que os danos já são vultosos, embora suportáveis e superáveis caso as comunidades e órgãos e entidades públicas estejam devidamente informadas, preparadas e mobilizadas e haja o necessário aporte de recursos financeiros.

O decreto também permite ao governo adotar medidas administrativas para agilizar o processo de contratação de bens e serviços necessários para socorrer a população e recompor serviços e obras de infraestrutura essenciais.

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