Julio Borba: tradição e reinvenção do violão sete cordas

A noite de sexta-feira (24), no Teatro do Mundo, concedeu um mimo e tanto para a música instrumental de MS. No palco, sozinho, estava Julio Borba para apresentar o show “Minha Viagem – Histórias, Lendas e Sonhos Musicais”.

A bordo de seu violão sete-cordas, o músico viajou – e fez viajar quem marcou presença – por um repertório a um só tempo delicado e preciso, divido em três atos, que serviu como uma amostra inspirada e eficiente de sua pesquisa, seu talento e do laboratório que a artista desenvolve com o seu instrumento.

É de impressionar o que esse artista propõe e logra a partir do sete-cordas, violão mais conhecido nas rodas de choro, de onde Julio o retirou, com maestria, a partir do contato com Arthur Bonilla, em 2012.

Assim como o instrumentista gaúcho, ele optou por bancar as possibilidades do sete-cordas enquanto instrumento solo e, ao longo de pouco mais de uma década, durante a qual lançou dois álbuns e tornou-se doutor em Etnomusicologia, construiu um trabalho autoral de encher olhos e ouvidos.

A melhor parte é que a sua erudição parece não tolher em nada, se é que há essa contradição, o que soa espontâneo, despojado e inspirado em sua música.

Como se apreciou em “Dois Irmãos”, do primeiro ato (“Sonhos Musicais”), ou em “Melhoras”, do terceiro ato (“Chegando os Pés no Chão, Junto do Meu Povo”), em que a velocidade do dedilhar e a promoção dos arpejos abrem caminho para o processo de cura, literal, que motivou o tema.

Esse ato foi dedicado a presença da fronteira em seu trabalho – polcas, chamamés e guarânias.

Bem à vontade em cena, Julio leu textos, contou causos e falou, por exemplo, sobre como a psicanálise o levou a buscar a música dos próprios sonhos. E todo mundo ali foi embarcando em suas histórias e no seu som.

Em um recital quase sem composições de outros autores, o público ainda ganhou uma versão bem temperada no “jazz lascado” do violonista de “Rio de Lágrimas”, sucesso da dupla Tião Carreiro & Pardinho, que o Brasil idolatra há mais de cinco décadas. Uma noite a se lembrar.

 

 

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