Polícia Federal abre ofensiva contra traficantes do PCC

A Polícia Federal abriu, nos últimos três meses, grande ofensiva contra os traficantes de cocaína que atuavam em Ponta Porã a serviço da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Do mês de maio para cá, o crime organizado sofreu três grandes baixas na região: o traficante Caio Bernasconi Braga, o Fantasma da Fronteira, foi preso no dia 5 de maio; no dia 30 de junho, Antônio Joaquim Mendes Gonçalves da Mota, o Motinha, que gosta mesmo é de ser chamado de Don Corleone (em referência ao filme “O Poderoso Chefão”), quase foi preso, mas escapou de helicóptero de uma operação; e, mais recentemente, no dia 1º, Lucas Barbosa de Almeida, que viveu por 15 anos com a identidade falsa de Lucas de Almeida Alencastro, mas que no meio criminal era conhecido como Bonitinho, foi finalmente preso pela Polícia Federal depois de viver mais de uma década na clandestinidade.

O que os três têm em comum? A ligação, direta ou indireta, com a organização criminosa PCC, que surgiu dentro dos presídios de São Paulo na década de 1990 e transformou-se em um dos maiores cartéis do crime da América do Sul, com atuação que vai de pequenos roubos a assaltos a banco e que, desde a década passada, entrou firme no tráfico de drogas.

Caio Bernasconi Braga, o Fantasma da Fronteira, que foi preso em maio, é apontado como o sucessor de outro chefão do tráfico do PCC que está preso há mais tempo: Sergio de Arruda Quintiliano, o Minotauro.

Mudança de perfil

O delegado da Polícia Federal em Ponta Porã, Anésio Rosa de Andrade, que supervisiona, entre outras coisas, investigações sensíveis contra facções criminosas, disse ao Correio do Estado que, ao contrário do que ocorria em um passado não muito distante, em que as organizações tinham o desejo de se afirmar perante a sociedade, agora os chefões do tráfico procuram a discrição.

Foi o que a Polícia Federal notou nas operações recentes, que resultaram na prisão de Bernasconi e Bonitinho e que quase prenderam Motinha.

“Eles atuam de forma descentralizada, formando várias parcerias com criminosos, mas também não querem mais ficar com essa coisa de ser marcados como alguém de facção”, explica o delegado. “Hoje eles evitam ao máximo esse tipo de exposição, para não chamar a atenção da Polícia Federal, das instituições de segurança”, complementa o delegado.

É o caso do traficante que ficou conhecido entre 2003 e 2006, pelo apelido de Bonitinho, quando esteve preso no sistema penal do estado de São Paulo. Naquela época, Bonitinho, que já havia morado em Ponta Porã e sabia os caminhos do tráfico, chegou a operar esquema para levar drogas para o estado vizinho de dentro da cadeia e acabou tendo ligações com o PCC.

“Depois, ele [Bonitinho] aproveitou uma saidinha de fim de ano, fugiu da prisão e não foi mais encontrado. Estava vivendo aqui, com documentos falsos, até exerceu cargos públicos”, conta o delegado.

Motinha

No caso de Motinha, o Correio do Estado apurou que ele também não levava uma vida “carimbada” como a de um chefão ou parceiro do PCC, mas como um filho de um produtor rural e dono de frigorífico muito bem-sucedido. Motinha escapou no dia da operação que tinha ele como alvo. A suspeita é de que a polícia paraguaia tenha vazado as informações. A instituição do país vizinho nega.

Motinha fugiu de helicóptero, e seu grupo era conhecido por ter o perfil de traficar drogas por via aérea, inclusive fazendo o uso de helicópteros. A região Cone-Sul do Estado se tornou rota frequente de voos de helicópteros nos últimos anos. Há suspeitas de que alguns possam estar a serviço do tráfico.

Sobre a ligação com o PCC, investigação da Polícia Federal também indica que o clã Mota, do qual Motinha faz parte, se associou ao grupo de traficantes comandado por Minotauro na década passada, que vinha sendo liderado pelo Fantasma da Fronteira até maio deste ano.

Ascensão do PCC

O PCC assumiu de vez o posto de uma das maiores forças do tráfico na fronteira depois do assassinato do traficante Jorge Rafaat, em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero.

O crime ganhou notoriedade por sua execução espetacular: mesmo estando em um SUV Hummer blindado (carro similar aos utilizados pelas tropas norte-americanas, só que muito confortável), Rafaat foi executado porque os rivais tinham metralhadora ponto 50 montada na caçamba de uma caminhonete, arma que é utilizada em guerras e que tem o poder de furar blindagens até de tanques.

A organização criminosa não fez questão de esconder estava envolvida no assassinato do então chefão do tráfico na fronteira. Rafaat vendia a droga de uma forma diferente: atendia várias organizações e atuava como um atacadista da fronteira, afirmam investigadores. Depois de sua execução, o comércio ilegal de drogas na região mudou.

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