O veterinário ainda tem propriedade de mais de 50% de um lote no residencial Damha, avaliado em R$ 646 mil, outro terreno no Jardim Noroeste avaliado em R$ 5 mil e outro em R$ 23 mil e 100. Ainda é proprietário de 50% de um lote no valor de R$ 179 mil e outro na mesma região avaliado em R$ 224 mil, além de um terreno no bairro Tiradentes de R$ 35 mil e 48% da área de uma fazenda no valor de R$ 340 mil.
Além dos vários imóveis, o veterinário também tem aplicações em diversas contas bancárias, no valor total de R$ 437 mil.
Segundo a denúncia do Gaeco, o médico veterinário, além de financiar o tráfico, também agia como agiota emprestando para apenas um cliente o montante de R$ 600 mil. “O mesmo se diga dos inúmeros cheques apreendidos, no montante de R$ 1.676.722,36 (um milhão, seiscentos e setenta e seis mil e setecentos e vinte e dois reais e trinta e seis centavos), cuja razão da posse até o momento não ficou esclarecida, havendo indicativos de que guardam relação com atividades ilícitas,entre as quais o próprio financiamento ao tráfico e agiotagem, até porque não constam em seu imposto de renda, de modo que não podem ser restituídos.”, diz parte da denúncia.
Durante seu depoimento, o veterinário confirmou ter emprestado o montante a uma pessoa que nunca tinha visto anteriormente. O veterinário não o conhecia. “A despeito disso, não consta nas últimas declarações de imposto de renda do requerente a informação de que ele repassou de R$ 600.000,00(seiscentos mil reais) para DIEGO, seja a título de empréstimo, seja como investimento em um imóvel de sua propriedade.”, diz a denúncia.
Veterinário usava contratos de aluguel como disfarce
Segundo a denúncia, o médico veterinário mantinha um contrato de locação de um salão comercial com um dos traficantes responsáveis por trazer cargas de drogas na fronteira do Brasil com o Paraguai, além de ser também responsável por levar veículos como garantia para o condomínio de luxo do veterinário.
O contrato de locação era de um salão comercial, no bairro Vila Almeida Lima, em Campo Grande. A locação do imóvel foi fechada e registrada em cartório, no dia 22 de junho de 2020. “Esse contrato de locação inclusive é usado com justificativa para todos os aportes de MILTON para DIEGO, não se descartando que sua finalidade real seja apenas o de encobrir o financiamento ao tráfico de drogas”, diz a denúncia.
O traficante regularmente viajava para São Paulo, onde morava o líder da organização criminosa conhecido como ‘Gordinho’ para a negociação de drogas. O médico veterinário era chamado de ‘Patrão’, o que, segundo a denúncia do Gaeco, reforçava a condição de financiador da organização criminosa. “E talvez, voltaram a falar com o ‘patrão’, mas o rapaz ia olhar essa Land Rover vermelha”.
Ainda segundo o MPMS, o médico veterinário fazia parte da organização criminosa desde o começo do ano de 2020. O alvo do Gaeco tem uma empresa de inseminação artificial com registro de abertura desde 11 de dezembro de 2017 e como sócia tem a esposa.
O médico veterinário não tinha contato com a droga, e por isso, tinha a garantia dos veículos de luxo que eram deixados em seu condomínio. Ele teria investido cerca de R$ 1 milhão no tráfico. A cidade de Anastácio seria uma das bases do grupo criminoso.
Em setembro deste ano, o médico veterinário foi para prisão domiciliar. O STJ (Supremo Tribunal de Justiça) havia negado o habeas corpus para a liberdade do médico, no dia 22 de setembro.
Carros de luxo e notas promissórias
O médico veterinário tinha em sua casa em um condomínio de luxo, em Campo Grande, carros de luxo e notas promissórias como garantia pelo investimento feito de R$ 1 milhão no tráfico.
Na casa do médico, foram localizadas duas notas promissórias no valor de R$ 242 mil em nome de uma agropecuária e outra no valor de R$ 300 mil. Ainda foi encontrada na residência outra nota promissória do dia 16 de maio de 2021, do traficante com quem o médico veterinário mantinha ‘negócios’.
O traficante era o responsável por levar os carros de luxo como garantia para o médico veterinário. Na residência do médico veterinário no escritório, havia uma pasta preta com a inscrição “DOC.DIEGO”6, na qual continha documentos referentes ao controle dos veículos providenciados pelo traficante, muitos dos quais autorizaram a realizar a transferência/venda/troca desses automóveis.
Uma dessas procurações era da empresa do CAC, preso na primeira fase da Operação Traquetos, outorgando, a partir do dia 28 de setembro de 2022, poderes para que o traficante na condição de procurador pudesse transferir para o nome do outorgante e posteriormente, vender, ceder, transferir, permutar, ou por qualquer outra forma, ou título alienar, a quem quiser, pelo preço, prazo e condições que livremente ajustar.
A esposa do médico veterinário era a responsável por entrar com os carros de luxo dentro do condomínio sem levantar suspeitas. Assim, os veículos ficavam no local como garantia para o médico. A esposa do alvo do Gaeco teve uma das conversas interceptadas onde fala sobre o carro que deve ser entregue.
“(…) X, bom dia, tudo bem? O X falou que eu tenho que pegar uma encomenda contigo, né? (…)”. Em resposta afirmativa, o primeiro instrui como deverá ser o recebimento do veículo: “ô X, bom dia! Vai ser em torno de uma e meia, por ai! eu vou falar pra ele ficar lá na frente, aí você só pula pra dentro, e tchau! Mas aí nós vamos falando aqui, mas vai ser em torno disso aí mesmo, uma e meia por ai”. E, continua: “Ô X! Ele disse que tá chegando aí já, ele tá numa Hilux prata, cê vai catar a Hilux, só pergunta pra ele se tem documento, né! O porte, ai ele… ai ele se vira ai.”